domingo, 29 de setembro de 2013

Amanhã? nem sei.

Tem uma frase do Caio Fernando Abreu que diz mais ou menos assim "não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica a não ser continuar. Tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios... eu tive tanto amor um dia." E a gente pára, respira, suspira, quase se atira. E a gente pensa se vale mesmo a pena ir adiante. E a gente não sabe e perde o rumo. E a gente...
Tudo sempre começa e termina, mas ingenuamente achamos que todo começo é eterno e que pra todo o fim dá-se um jeito. Alguém vai embora e o telefone não mais toca. Alguém chega e você acha que aquela presença será constante. Ei, não é assim, as pessoas chegam e vão, podem sair à francesa, podem entrar sem a menor cerimônia. Mas escuta bem o que eu digo: o momento de fazer é hoje.
Ando descrente, por mais que faça força pra acreditar. Apesar disso acredito e se não tenho motivos invento. Não deu certo, tudo bem, recolhe o que sobrou, junta os brinquedos e faz tudo de novo. Falar é fácil, eu bem sei. Fazer é complicado, sei também. Mas escuta, escuta, escuta. Alguma voz no fundinho da gente sempre fala baixo o que precisamos ouvir: é preciso seguir, ainda que devagar, mesmo que o caminho seja cheio de tropeços, ainda que muitas quedas cheguem de mansinho, mesmo que o tempo esteja feio e escuro lá fora. Nem sempre conseguimos escutar essa voz, é preciso muito silêncio, é necessário estar distraído, é urgente que saibamos quem somos. Não pense que é fácil lidar e saber quem-eu-sou. Dói, um pouco dói. Mas a dor vai se transformando em conhecimento-interior-profundo-adaptado-reeducado-inventei-tudo-neste-espaço-de-segundo, pode apostar.
E tem a sensação de perda de. Como pode um amigo próximo, um amor quente, um gosto bom ir embora? Fica só a lembrança e o cheiro de queimado, de coisa que passou do ponto há horas. Acho triste. Me entristece de uma forma tão grande pensar que as coisas um dia podem deixar de ser. Então eu penso que a qualquer momento eu também posso deixar de ver. Eu, você, o mundo. E um sorriso surge outra vez pra lembrar que o que importa é o hoje, o agora, o neste exato momento. Porque amanhã eu nem sei.

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