Vieram perguntar
qual é a coisa que mais quero do amor, qual seria a grande surpresa romântica,
a grande prova apaixonada, a felicidade total em termos amorosos. Olha, essa
pergunta é bem difícil. Acho que o amor, pra ser amor, não precisa
provar nada. Ele mesmo se prova, se sustenta, se garante. O amor tem um escudo
que protege de tudo (se deixarmos). Você pode achar essa visão romântica
demais, mas acho que o amor verdadeiro não acaba nunca (se cuidarmos). Por que
tanto parênteses? Porque o amor, pra ser amor, é simples. É que nem planta: se
a gente molha, protege do sol excessivo, do vento maluco, dos bichinhos, ela
cresce, fica bonita e alegra a sala. Se a gente esquece de molhar, deixa
torrando no sol, não cuida, ela vai pro beleléu e o cantinho da sala fica
vazio, sozinho, sem vida.
É claro que a gente
sempre espera algo. A vida é uma eterna sala de espera, estamos sempre
esperando algo para nos sentarmos no colo da tão esperada felicidade. Ficamos
esperando uma promoção, o amor chegar, ter o próprio apartamento, comprar um
sítio, conhecer aquela cidade tão desejada, dar uma festa de casamento, acumular milhões, parar de trabalhar, morar na praia e viver o resto da
vida dormindo e acordando com o barulho das ondas. Nós adiamos o presente por
medo. Medo do hoje, do agora, do arregaçar as mangas e enfrentar os fantasmas
que, infelizmente, vão nos rondar para sempre, por mais terapia que você faça,
floral que você tome, missa que você vá, tarja preta que você engula com vodka
barata. A vida, meu amigo, tá acontecendo enquanto o Faustão passa na TV. O que
você quer hoje? O que você quer agora? O que você está esperando para ser feliz
no amor?
A gente quer que o
outro nos perceba. Mas mostramos os caminhos? Ninguém adivinha nada sozinho.
Por mais que vocês dois se conheçam, por mais que estejam juntos há tanto
tempo, existem coisas que estão cravadas no seu fundo. Algumas mágoas têm
âncoras, ficam presas em nós. Isso acontece por falta de conversa, por falta de
cumplicidade, comunicação, vontade. Falta mais verdade, acredito que as pessoas
ficam com medo de mostrar fraquezas e ficarem sozinhas. Ninguém é fortaleza.
Todo mundo tem um lado fraco, frágil, que implora ajuda. Não dá pra ter medo de
mostrar isso. Não tem que ser o bom, o forte, o poderoso o tempo todo.
Isso cansa e é uma farsa. O outro só vai nos perceber por inteiro quando a
gente deixar, quando dermos o sinal verde, o ok, quando a gente perder o medo
de falar: olha, o caminho tem lama, tem rato, tem escuridão, mas vem, por
favor, vem. O problema são as promessas de que tudo vai ser lindo e
maravilhoso. Não, não é. Às vezes vai ser ruim e chato, mas você tem que querer
não desistir. O amor é não querer desistir.
A gente quer que o
outro mude. Uma vez ouvi falar "tudo que amamos no começo é o que odiamos
no fim". Desculpe, mas o outro não vai mudar e se você o ama tem que
entender, aceitar, tentar amenizar, arrumar soluções. O segredo é esse: ao
invés de reclamar e brigar tem que tentar resolver. Tome
uma atitude. Não reclame. O outro não muda simplesmente porque a gente quer. O outro muda porque
ele quer. E, mesmo ele querendo, toda mudança é um processo lento. Mudanças
rápidas são fajutas, não existem. É que nem dieta rápida: você perde peso em
seguida, mas recupera tudo em dobro depois.
A gente quer que o
outro adivinhe nossos desejos. Esquecemos que ele não tem bola de cristal. Diga
exatamente o que você quer. Há algum tempo eu não conseguia dizer
preciso-de-você-agora. Esperava que ele tivesse sensibilidade, que adivinhasse,
que se desse conta. Quando isso não acontecia eu me frustrava. Achava que
ele-tinha-que-saber. Não, por mais que ele me ame e me conheça ele não tem que
saber. Eu tenho que dizer. É claro que certas coisas estão na cara, só se a
pessoa é muito insensível e não presta a menor atenção em você ela não percebe.
Mas existem sutilezas que são sutilezas. E precisamos abrir a boca e aprender a
dizer as coisas. Se você diz que não foi nada, o outro vai achar que realmente
não foi nada. Se uma coisa te feriu e te
machucou, diz. Se uma coisa ficou entalada na garganta, cospe. Se uma coisa tá
incomodando, tá te apertando, tira. A vida fica mais simples assim.
Mas, afinal, qual é
a coisa que mais quero do amor? Quero proximidade. O amor tem que ser próximo.
Não falo próximo de colado, grudado. Falo próximo de junto, cúmplice,
companheiro. O amor é você perceber que não anda mais sozinho. Que tem alguém
pra abraçar quando o mundo está grande demais. Que tem alguém pra se esconder
quando tudo está sombrio demais. Que tem alguém pra brindar quando tudo dá
certo demais. Que tem alguém pra dividir as coisas que a vida tem para nos
mostrar. Amar, pra mim, é isso. É você cuidar do outro quando ele precisa,
quando tá doente, triste, com frio, sozinho. É ficar feliz com a felicidade do
outro. É fazer pequenas gentilezas. Se preocupar. Comprar o iogurte preferido.
Assistir filmes de terror mesmo sem gostar, mas assistir porque ele gosta da sua
companhia. É deixar o egoísmo dar espaço para a doação. É lógico que toda
mulher tem sempre na cabeça uma cena de filme. A gente quer fogos de artifício,
pedidos de casamento de joelhos, que o outro adivinhe os nossos desejos. Não
quero isso, de verdade. Quero, apenas, que ele saiba quais são os meus sonhos,
que preste atenção no que eu gosto e sinto. E que queira entrar nesse barco comigo pra nunca mais sair.
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