“Meus olhos se voltavam constantemente para a jovem. Ela ficou sentada a meu lado, os braços envolvendo meus joelhos. Tinha a pele mais luminosa que a lua, os olhos mais vastos que o céu, mais profundos que a água, mais escuros que a noite.
Aos poucos, comecei a me dar conta que a estivera fitando, sem palavras, por um tempo incalculável. Perdido em meus pensamentos, perdido na visão dela. Mas seu rosto não pareceu ofender-se nem divertir-se. Era quase como se ela estudasse as linhas do meu rosto, quase como se esperasse.
Tive vontade de segurar sua mão. Tive vontade de roçar sua face com a ponta dos meus dedos. Tive vontade de lhe dizer que ela era a primeira coisa linda que eu via em 3 anos. Que a visão dela, bocejando no dorso na mão era o bastante para me deixar sem fôlego. Que, em certos momentos, eu perdia o sentido de suas palavras no doce flauteio de sua voz. Tive vontade de dizer que, se ela estivesse comigo, de algum modo, nada jamais poderia tornar a correr mal para mim.
Naquele segundo sem fôlego, quase lhe fiz um pedido. Senti-o fervilhar em meu peito. Lembro-me de ter respirado fundo e em seguida hesitado – o que eu poderia dizer? Venha comigo? Fique comigo? Não. Uma certeza súbita me apertou o peito como um punho de frio. O que eu poderia pedir-lhe? O que tinha para oferecer? Nada. Qualquer coisa que eu dissesse soaria tola, uma fantasia de criança.
Fechei a boca e contemplei a água. A centímetros de distância, ela fez o mesmo. Pude sentir seu calor. Ela recendia a poeira de estrada, mel e àquele cheiro que paira no ar segundos antes de uma chuvarada de verão.
Nenhum de nós falou. Fechei os olhos. A proximidade dela era a coisa mais doce e mais pungente que minha vida já conhecera.” P. Rothfuss
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