quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher (homenagem do Thiago Grulha)

"Minhas primeiras palavras pediam o teu carinho. Aprendi a confiar segurando em tuas mãos.
Teu colo levou-me a lugares que meus pés não sabiam ir. Cresci à sombra dos teus cuidados.
Agarrado em tua saia, atravessando ruas tomadas de outras crianças, cheguei ao portão da escola. Chorei ao me despedir.
Subi as escadas com receio e me perdi no corredor.
Quanto barulho! Parecem muito felizes aqui.
Entrei na sala de aula e te vi novamente. Não era bem você, mas parecia tanto contigo.
Ela sorriu. Ajeitou-me na carteira e entregou-me um desenho para eu colorir. Caprichei como se fosse um concurso bem disputado.
Uma sirene tocou. Todos correram. Continuei pintando a árvore em frente a casinha de madeira. Foi quanto eu a ouvi dizer: – Vamos comigo. Eu te levo para o recreio.
Caminhamos sem conversar, mas foi tão bonito pra mim.
Passaram-se os dias. Lição na lousa. Ditado. Cartilha! Que milagre! Agora eu sei o que as letras querem dizer! Obrigado professora.
Novamente, agradeço a uma professora pela ótima aula de literatura, mas a voz está mais grave e meu rosto com espinhas. A melhor aluna da sala está vindo na nossa direção.
Suspiro quando a vejo chegando. Não é minha mãe, nem uma educadora gentil, mas é ela. Sinto eletricidade formigando-me inteiro quando ouço o seu “olá”.
- Vamos fazer este trabalho de gramática amanhã? – Aquele anjo perguntou-me com o seu sorriso perfeito.
Orei a Deus agradecendo o milagre e respondi: – Claro! Na tua casa é melhor. Te vejo na hora do almoço.
Eu estava apaixonado. Todas as cores eram pálidas perto daqueles olhos amorosos. E se, por algum movimento involuntário, nossos corpos se aproximassem, o meu coração batia tão forte que tenho certeza que todos conseguiam ouvir. Tiramos nota 10. Fizemos muitas atividades escolares naquela sala cheia de quadros da sua família, mas nunca contei que, já a algumas noites, eu sonhava com a gente passeando pelo quintal e as vezes encostados numa árvore parecida com a dos meus desenhos da pré escola. Na formatura, ela sentou do meu lado. Adeus oitava série. Adeus primeiro amor.
Hoje o cinema está lotado. Tive janela na faculdade, e como é meu último ano, preciso tomar coragem.
- Está gostando do filme? – Tinha que tentar puxar assunto e isto foi o melhor que consegui fazer!
- Estou sim, mas se você chegar um pouco mais perto, ficará melhor! – Isto ela disse com voz sussurrada e expressão debochada. Será que está brincando comigo?
No primeiro beijo a queria pedir em casamento. Só voltamos a olhar a tela quando as letrinhas que ninguém lê começaram a subir com nomes internacionais.
Quanta ternura! Um abraço assim conserta histórias quebradas e une sentimentos sem muito esforço.
Foi um romance maravilhoso, mas minhas imperfeições afastaram nossos passos.
Choramos. Perdemos.
Cabisbaixo, arrastando os pés por alguma rua escura, a encontrei.
Não era minha mãe, nem minha professora, muito menos uma paquera ou minha namorada.
Ela me ouviu. Aconselhou-me. Pagou meu lanche e ainda deu um tapinha engraçado nas minhas costas.
Saímos por aí reparando em construções antigas e lemos muitos livros. Discutimos sobre poesia, literatura e a roupa da noiva do casamento do João com a Maria (claro que ela me obrigava a dizer o que eu achava, afinal, pra mim, é tudo branco e só rs).
Conversamos sobre o que nossa alma escondia e superamos traumas enquanto olhávamos o céu naquelas noites cheias de estrelas e confissões.
Fui o seu padrinho e pude ver o momento em que o homem dos seus sonhos a beijou no rosto e prometeu amá-la pra sempre. Me emocionei.
Sei que verei os seus filhos e eles me chamarão de tio. Afinal, ela é minha amiga.
O que seria de mim sem as mulheres?
As avós. Tias. Primas. Mãe. Amigas. Amores. Professoras. E espero que em breve venham as sobrinhas! Rs E quem sabe um dia eu possa escrever algo para minha esposa e filhas, demonstrando que as amo e preciso delas.

Feliz dia da mulher!"
Thiago Grulha

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